terça-feira, 27 de março de 2012

Equoterapia no tratamento respiratório

 

A utilização de técnicas na desobstrução brônquica em pacientes com Disfunção Neuromotora na Equoterapia.
                                                                                  
                                                                             Mylena Medeiros  (Fisioterapêuta)

É consenso que a Equoterapia através do deslocamento tridimensional do centro gravitário do cavalo, ajustado ao do cavaleiro, propicia a este a estimulação de seus sistemas neuromotor, músculo-esquelético, sensorial, cardiorespiratório, disgestivo e paralelamente psicoemocional, porém para que todos estes benefícios sejam otimizados faz-se necessário a intervenção terapêutica de acordo com os objetivos específicos.
Os músculos respiratórios, como os outros músculos estriados esqueléticos, tem participação direta na atividade voluntária e em reações automáticas de alto grau de integração neurológica. São mantenedores da postura, equilibrando constantemente o tronco que é o centro do controle dos membros.
Durante a evolução normal os músculos respiratórios ganham comprimento e força de acordo com a vivência corporal do bebê. As posturas e movimentos experimentados até os dezoito meses, modificam a configuração do tórax, através dos alongamentos dos músculos inspiratórios e do fortalecimento dos expiratórios e reforçam a propriocepção diafragmática.
A evolução motora normal, equilibra tórax e abdômen, ajustando a capacidade residual funcional e mantendo um ponto de equilíbrio entre estas duas cavidades.A incapacidade para manter a qualidade da postura e dos movimentos reflete-se sobre o tronco alterando a harmonia da mecânica da expiração, modificando as pressões torácicas e abdominais.
A disfunção neuromotora é definida como distúrbio cerebral não progressivo que leva a uma incapacidade ou dificuldade em usar voluntariamente os músculos, podendo ou não ocorrer um atraso intelectual, com diferentes formas de apresentação clínica e de etiologia múltipla.
Os pacientes portadores de disfunção neuromotora em sua grande maioria apresentam ou apresentaram atrasos no desenvolvimento decorrentes de alterações no tônus e força muscular, nas reações de endireitamento e equilíbrio, assim como  presença de padrões de movimentos anormais, que desencadeiam distorções posturais contribuindo com o aparecimento dos distúrbios ventilatórios e conseqüentes afecções pulmonares.
O presente estudo visa apresentar técnicas fisioterapêuticas que tem por objetivo incentivar a ventilação pulmonar e promover a higiene brônquica através da reorganização torácica e conseqüente sinergismo muscular respiratório. As medidas terapêuticas para alcançar tal objetivo baseiam-se no alongamento e fortalecimento dos músculos respiratórios além da adequação tônica.
A primeira orientação para aplicação das técnicas baseia-se na observação do padrão postural que o paciente apresenta e conseqüente padrão respiratório.
            As técnicas não se constituem de manobras isoladas, mas de um manuseio dinâmico, orientado pela biomecânica respiratória normal, caracterizadas por: posicionamento biomecânico adequado, alongamentos passivos, apoios manuais e mobilizações( ginga).
A aplicação adequada das técnicas deve resultar em redução do esforço muscular ventilatório, remoção das secreções e diminuição das afecções respiratórias.

Posicionamento Biomecânico
O posicionamento adequado na postura sentada sobre o cavalo, desde de que atendendo os componentes de alinhamento do centro gravitário, pelve na postura neutra e retificação de tronco, facilitará uma melhor incursão respiratória favorecendo a ventilação pulmonar.

Alongamentos Passivos
Os alongamentos específicos a cada quadro clínico promoverão maior simetria torácica e sinergismo toraco-abdominal.

Apoios         
Os apoios abdominais e toraco-abdominais tem por objetivo e função estimular e fortalecer o músculo diafragma, melhorando a área de justaposição, aumentando o tônus e força dos músculos abdominais para que estes desempenhem com eficiência suas funções inspiratórias e expiratórias.

Ginga Torácica
A ginga torácica tem por objetivo promover a mobilização de secreções broncopulmonares, através da movimentação seletiva das costelas e da geração de melhor fluxo expiratório. É geralmente utilizada após o alongamento dos músculos inspiratórios, quando o retrocesso elástico da caixa torácica aumenta, tornando-a mais maleável e permitindo a aplicação de pressão sobre a parede torácica sem os efeitos de compressão dinâmica sobre as vias aéreas, o que contribuiria para o fechamento precoce destas. 

Amostra
O estudo utilizou-se de uma amostra que constou de cinco pacientes com disfunção neuromotora em diferentes idades, entre 03 e 09 anos, com distribuição topográfica do tipo quadriplégica, com variações quanto ao tônus.
Todos os pacientes mantiveram a freqüência de passo e cavalo inicialmente escolhidos para a patologia, estando todos na fase da hipoterapia, trabalho com carona do terapêuta.
Os pacientes em intervenção, foram observados durante o período de um ano, sendo o método aplicado somente quando estes apresentavam intercorrências pulmonares.
Durante os episódios de comprometimento respiratório foi observado na ausculta pulmonar de todos os pacientes; presença de ruídos adventícios e diminuição ventilatória. 
Utilizou-se da ausculta pulmonar e mensuração da freqüência respiratória como método de mensuração sendo estas realizadas antes e após o atendimento. 

Resultado
Ao final dos atendimentos, foi notória a melhora da ausculta pulmonar e freqüência respiratória em todos os pacientes.
Observou-se diminuição de 60% das intercorrências pulmonares durante o ano de atendimento, calculando a média dos últimos dois anos, em 4 dos 5 pacientes. 

Referências Bibliográficas:
1. Souchard, Philippe; O Diafragma – Ed. Summus, 1989
2. Pinheiro, Mariangela; Reequilíbrio Toracoabdominal – Atualização em Terapia Intensiva Pediátrica – Ed. Interlivros, 1996
3. Edwards R. H. T., Faulkner J.; Structure and function of the respiratory muscles: The thorax, part A, New York, Marcel Dekker, 1986
4. Umphred, Darcy Ann; Fisioterapia Neurológica – Ed. Manole, 1994

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